A questão do lixo hospitalar deve ser um dos focos de discussão logo depois das eleições, com direito a muita polêmica e denúncias de privilégios, com respingos na administração estadual. Apesar da seriedade com que o atual governo vem tratando a questão do meio ambiente, por mais que se esforce não consegue pacificar detentores de funções públicas que teimam em expor, individual ou conjuntamente, características de incompetência, prepotência, arrogância e ganância. É sabido aos quatro cantos a incompatibilidade política dos executivos estadual e municipal de Curitiba, com reflexos em áreas como educação, transporte, saúde e segurança pública, sempre com a população “pagando o pato”. O Instituto Ambiental do Paraná embargou a vala séptica de Curitiba e, a partir de janeiro de 2005, decreta-se o fim da atual parceria entre a prefeitura de Curitiba e os geradores de resíduos sólidos, de coleta e destinação final do material. Apesar de conflitos das normas fixadas pela Anvisa e Conselho Nacional de Meio Ambiente, o governo estadual, através do IAP, já anunciou que caberá a cada gerador de lixo a responsabilidade para sua destinação.
Na promoção, quilo do lixo custa mais que diária hospitalar
Só uma empresa está licenciada para operar. É a Rodimex, da Cavo
O curioso é que somente uma empresa está licenciada pelo IAP para realizar este serviço no Paraná. Trata-se da Rodimex, vinculada à Cavo, a mesma da coleta de lixo convencional de Curitiba. Mais curioso ainda é que está proibida a utilização de incinerador aqui. Deste modo, a empresa terá de recolher o lixo hospitalar e transportá-lo para outro Estado, possivelmente São Paulo. O custo disso?
Bem, a administração da Rodimex já iniciou contato com os hospitais e está propondo um preço promocional de R$ 8,50 por quilo de resíduos recolhidos. Os empresários do setor de saúde estão de “cabelo em pé”. O custo de um quilo de lixo hospitalar vai custar o equivalente ao que um hospital recebe por uma diária, que inclui série de refeições, hospedagem, higienização, pessoal especializado, água, luz… Para piorar, o IAP está levando em conta as orientações da Conama e não da Anvisa, com que o conjunto de material interpretado como lixo hospitalar infectante é muito mais vultoso. Em média, de 7 a 10% do lixo gerado em hospital são entendidos como infectantes e passíveis de acondicionamento especial.
Tramóia e fonte de corrupção na “mina de dinheiro”
Curitiba tem cerca de 70 hospitais e mini-hospitais, além de 400 outros estabelecimentos de saúde que, de algum modo, geram resíduos que podem conter riscos à saúde e ao meio ambiente. Daí avaliar que a coleta privilegiada pode se transformar numa mina de dinheiro. Se é que alguém vai conseguir pagar a conta. As entidades representativas das empresas preferem ainda não “tocar o dedo na ferida”, acreditando que o governador Roberto Requião ainda não tomou ciência do atalho que se está sugerido ao problema. Um empresário, que pede para não ser identificado, confirma o impasse, o qual faz relações com palavras como “tramóia”, “caça-níquel” e “fonte de corrupção”. Quaisquer que sejam os desdobramentos políticos da iminente eleição, o mais sensato é que todas as partes interessadas possam estar reunidas em busca de uma saída negociada, que contemple legislação, interesses afins e, sobretudo, que não tenha, como de hábito, o pesado ônus debruçado sobre a população.