contato@sindipar.com.br (41) 3254-1772 seg a sex - 8h - 12h e 14h as 18h

Nº 2 da Saúde sai por discordar de ministro

Segundo nome na hierarquia do Ministério da Saúde, o sanitarista Gastão Wagner anunciou ontem a sua saída da pasta. Apontou como motivo divergências que “vêm se agravando” com o ministro Humberto Costa.

“Há visões diferenciadas da condução política do ministério que não foram resolvidas e aí, por uma questão de hierarquia e disciplina, eu saí”, afirmou à Folha.

“A gente tinha diferença de enfoques sobre o pacto de gestão [entre Estados, municípios e a União], sobre a responsabilidade sanitária [lei que cria metas para o setor], sobre a reforma dos hospitais, o tema da partidarização [ingerência política] ou não [do SUS]”, disse o ex-secretário-executivo ao resumir as divergências.

Segundo membros da equipe de Costa, a saída foi acordada e as discordâncias eram administrativas, nos “ritmos de trabalho”.

Pessoas próximas do ex-secretário falam que sua saída é o resultado de um processo longo de desentendimentos ligado ao modo de administrar de cada um -Costa, ministro com pretensões políticas e peça importante para o PT no jogo político do Nordeste, e Wagner, um técnico estranho no ninho. A mais recente desavença, dizem alguns, teria relação com um contingenciamento de verbas da pasta.

Professor de saúde pública da Unicamp, Wagner era responsável pela coordenação política e orçamentária. Levou neste ano o prêmio de administração pública da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) como a personalidade que mais se destacou no setor. Em 2002, era um dos “ministeriáveis”, depois do cardiologista Adib Jatene ter sido preterido, mas acabou vencido por Humberto Costa. Entrou, como vice, mas nunca fez parte do grupo mais próximo de Costa.

“São necessárias uma série de reformas estruturais, um pacto de gestão com Estados e municípios para corrigir uma série de pontos. Um deles é consolidar a fonte de financiamento, o Estado assumir que vamos bancar o direito à saúde”, disse Wagner ao ser questionado sobre onde é preciso avançar. Em 2003, durante a Conferência Nacional de Saúde, ele criticou a área econômica do governo em razão de proposta que ameaçou retirar verbas da Saúde. Outros setores do governo têm propostas semelhantes e a pressão também seria um dos motivos da saída de Wagner.

“Precisamos diminuir a influência do governo no SUS, municipal, estadual e federal, diminuir a partidarização, garantir a continuidade institucional do sistema, temos de criar carreira própria do SUS”, continuou. Ao fim da entrevista, Wagner estava rindo. Ele assistia à TV enquanto falava. “O deputado Arlindo Chinaglia [PT-SP] está no plenário elogiando o governo porque nos seus quadros há uma sanitarista que recebeu prêmio.”

O Ministério da Saúde afirmou em nota que o médico Antônio Alves de Souza, chefe-de-gabinete do ministro, assumirá interinamente o posto e que a saída está associada à visões diferentes sobre o futuro da secretaria.

Souza disse ontem que o ministro foi o primeiro a cumprir a legislação que vincula receitas à saúde e que a lei de responsabilidade sanitária está em discussão.

O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Gonzalo Vecina, é cotado para assumir o cargo.

Vinculação de verba cria disputa

DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de saúde está em pé de guerra com o Ministério das Cidades. Uma resolução do Conselho de Cidades de setembro deste ano pede modificação do projeto de lei 1/2003, que regulamenta a vinculação de receitas à saúde. Em resumo, o conselho quer evitar que a legislação impeça a contabilização de despesas com saneamento como gasto em saúde.

A pressão da área de Cidades é apontada como um dos motivos para que Gastão Wagner Campos tenha deixado o Ministério da Saúde. A Saúde não comenta o caso, diz que é questão de governo.

Autor do projeto, o deputado Roberto Gouveia (PT-SP) disse que a resolução do Conselho das Cidades “é um retrocesso”. De acordo com ele, o entendimento de que gastos com saneamento não podem ser computados como gasto em saúde já está em manuais do Ministério da Fazenda.

O Ministério da Cidades afirma que o projeto de lei prejudicará o setor, pois não haverá recursos suficientes para saneamento.