Quatro pessoas que participavam de um esquema de venda ilegal de receitas médicas para a compra de remédios manipulados foram presas
O Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) da Polícia Civil do Paraná prendeu quatro pessoas que participavam de um esquema de venda ilegal de receitas médicas para a compra de remédios manipulados de emagrecimento em Curitiba. Entre os presos está o médico Antônio Pedro Paulo Nuevo Miguel, 63 anos, pré-candidato a deputado federal pelo PV, o farmacêutico responsável pela manipulação da farmácia Farmacel em Curitiba e duas secretárias do médico. Três pessoas estão foragidas. A polícia suspeita que o esquema de venda de receitas para que os pacientes pudessem comprar os medicamentos manipulados tenha rendido cerca de R$ 4 milhões por ano ao grupo.
As prisões aconteceram na manhã desta quinta-feira (15) com o apoio de uma equipe do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e da Vigilância Sanitária. O fiscal do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), Eduardo de Freitas, acompanhou as prisões. Além do médico, as secretárias Cristiane da Cruz, 31 anos, e Jaqueline Bernadete Santos, 34, e o proprietário da farmácia Floracel, Daniel Dutra, 25, foram presos.
No consultório de Nuevo, que ocupava todo o 16º andar do Edifício Asa, na região central de Curitiba, a polícia apreendeu milhares de fichas de atendimento médicos e encontrou canecas em forma de pênis e seios, que eram distribuídos aos pacientes, além de perucas, camisetas com fotos do homem-aranha onde também estava estampado o apelido do médico “Migué Aranha”. Centenas de frascos de remédios também foram encontradas junto de santinhos e folders de propaganda política.
De acordo com a delegada titular do Nucrisa, Paula Christiane Brisola, as investigações começaram em fevereiro deste ano quando a mãe de uma paciente do médico o denunciou ao Conselho Regional de Medicina (CRM). A delegada explica que o médico além de vender as receitas, ainda receitava doses maiores dos remédios para viciar suas pacientes. “O caso é tão grave que esta moça que fez a denúncia, chegou a retirar a queixa para conseguir mais remédios. O médico a ameaçou que se a denúncia não fosse retirada ele não a atenderia mais”, contou a delegada.
Com as investigações, os policiais descobriram que Nuevo vendia as receitas por apenas R$ 25 reais e em todas elas receitava doses de remédios restritos acima do permitido para viciar seus pacientes. A segunda etapa do esquema era a de indicar a farmácia de manipulação Floracel, no Centro da cidade. Nuevo encaminhava um fax após a consulta diretamente para a farmácia. De acordo com a delegada, a farmácia não mantinha muitos contatos com o paciente, pois os remédios, em muitas ocasiões, eram entregues por um motoboy. “O farmacêutico sabia que aquelas doses não eram permitidas, mas fazia o remédio assim mesmo. O médico prescrevia cerca de 50 mil receitas por ano e a farmácia vendia os remédios por no mínimo R$ 80”, disse a delegada. Nuevo recebia cerca de 80 pacientes por dia.
Só no mês passado, Nuevo prescreveu quatro mil receitas para pacientes de Curitiba. Além da capital, o médico exercia esta prática em Guarapuava, Ponta Grossa, Palmeira e Pato Branco.
Risco – O fiscal do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF-PR), Eduardo de Freitas, que acompanhou a prisão, informou que o médico receitava uma associação dos remédios de emagrecimento aos pacientes. “Se o paciente tomar juntos os remédios Anfepramona e Femproporex, os efeitos colaterais podem aumentar”, explica.
De acordo com a farmacêutica Paola Barrichello, a utilização destes medicamentos durante um longo período, pode causar comprometimento cardíaco, motor, depressão, dependência química e arritmia cardíaca. “Como o paciente fica em jejum muito tempo porque os remédios cortam a fome, com o exercício físico, aumenta os batimentos cardíacos o que pode levar a uma parada do coração, levando o paciente a morte”, ressalta.
Figura – Nuevo é formado em medicina pela Universidade Federal do Paraná desde 1972. É pré- candidato a deputado federal pelo Partido Verde (PV-PR), em 2006. Em Curitiba, era uma figura conhecida por sua irreverência e por vários outdoors de agradecimentos ao “Dr. Miguel”. Para enganar ainda mais seus pacientes, Nuevo se dizia o médico com mais pacientes no mundo, feito que teria sido registrado no Guiness Book, livro que registra recordes no mundo, com 80 mil pacientes.
Os presos foram levados para o Cope e responderão por tráfico e associação para o tráfico de drogas e o consultório foi interditado. A prisão temporária é por 30 dias. O médico já havia sido punido pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná em agosto último, com censura pública em órgão oficial, por violação aos termos da letra "C" do artigo 22 do Código de Ética Médica. Além disso, responde a mais uma dezena de procedimentos no órgão de classe. A nova denúncia faz aumentar o risco de ter cassado o seu registro no CRMPR para exercício da atividade médica.