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Paraná tem o melhor índice de transplantes em 10 anos

O número de transplantes de órgãos no Paraná cresceu 16%, em 2006, em relação ao ano anterior. A constatação é da Central Estadual de Transplantes, no seu relatório anual. Em 2005, foram 819, contra 949 em 2006, o maior índice transplantes realizados nos últimos 10 anos. “Trata-se de uma grande notícia, que reflete todos os esforços do Governo do Estado na área. Precisamos ampliar cada vez mais esse número e a sensibilização da população é muito importante”, alerta o secretário da Saúde, Cláudio Xavier.
O maior número de transplantes realizados no ano passado foi de córnea, com 618 procedimentos. Em seguida, veio o transplante de rim, com 240, e de fígado, com 55. Também foram realizados 26 transplantes de coração, entre outros procedimentos. “Para aumentar ainda mais o número de transplantes, o Governo do Estado está criando condições, fazendo campanhas de conscientização, comprando equipamentos e autorizando a criação de organizações de busca de órgãos. Mas a sociedade deve discutir a situação e se sensibilizar”, pede o diretor da Central Estadual de Transplantes, Carlos D´Ávilla.
Os transplantes de tecidos e medulas ósseas também bateram recordes. Foram 1.033 procedimentos, o índice mais alto desde 1996. O crescimento foi de 40% em relação a 2005, quando foram computados 739 transplantes. “Esse é o resultado de uma série de políticas públicas adotadas pelo Governo do Estado. Em transplantes de tecidos e ossos, o Paraná é exemplo para todo o Brasil”, analisa o diretor-médico da secretaria da Saúde, Manoel Guimarães.
Ações – Desde março de 2006, uma portaria do Governo do Estado autorizou o funcionamento de dois bancos de olhos, em Cascavel e no Hospital de Clínicas em Curitiba. Outro fator importante que contribuiu para este crescimento, segundo D´Ávilla, foi a resolução 318/2006 do Secretário da Saúde, que tornou obrigatória para os hospitais com mais de oitenta leitos a notificação às autoridades de saúde de internamentos de pacientes com traumatismo cranioencefálico (traumas de acidentes), acidente vascular cerebral isquêmico (com falta de fluxo de sangue no cérebro) ou hemorrágico (com rompimento de um vaso sangüíneo), tumor cerebral primário e encefalopatia (ocasionada por falta de oxigenação cerebral).
Os internamentos de todos os pacientes em UTIs, com um desses cinco diagnósticos, devem ser comunicados às centrais de transplantes de Curitiba, Londrina, Maringá ou Cascavel. Também a morte dos pacientes deve ser comunicada. “Comparamos os óbitos notificados no plantão das centrais de transplante com o comunicado do hospital. Se houve óbito e não foi comunicado, temos como checar e fazer o controle”¸ observa o diretor. A Secretaria também autorizou o funcionamento da Organização de Procura de Órgãos (OPOs), um mecanismo auxiliar para efetuar a busca ativa nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e hospitais de potenciais doadores de órgãos e tecidos.
O esclarecimento sobre doação de órgãos e tecidos para transplantes é um trabalho permanente da Central de Transplantes do Paraná. Tanto mais que, segundo dados da Central, mais de 4 mil pessoas estão na fila de espera para o transplante de algum órgão.

Vidas além da dor

A depiladora Marlene Tanana, 43 anos, doou os rins, as córneas, ossos e o pâncreas de sua filha, falecida em 2004, quando tinha 22 anos de idade. Quatro pessoas receberam os órgãos. “Hoje, tenho contato com todos eles. Um deles inclusive conversa com minha neta e traz presentes para ela”, conta Marlene.
O receptor de um dos rins e do pâncreas, que tem contato direto com a família, segundo Marlene, estava muito mal. Quando o transplante foi efetuado, já era a quarta vez que ele se preparava para o procedimento. Foi chamado, quando fazia hemodiálise. Há 18 anos, tinha problema no rim. Outro, que recebeu uma córnea, veio de Santa Catarina para vê-la. “Na hora que os encontrei pela primeira vez fiquei perdida. Você fica alegre, triste, chora e ri. É inacreditável a sensação”, comenta.
Marlene diz que seu irmão foi quem lembrou que a filha era doadora. Quando a moça teve morte cerebral diagnosticada a família conversou muito com pessoas próximas e com os assistentes sociais para tomar a decisão. “As pessoas têm medo que os aparelhos sejam desligados antes de o paciente realmente falecer. Não é fácil, mas você salvará vidas”, emociona-se Marlene. Emocionada, ela conta que é muito gostoso saber que, hoje, pessoas estão vivas graças à doação de órgãos de sua filha.
Um exemplo é Gisele Aparecida Dolata, 21 anos. Ela fez o transplante de fígado quando tinha 17 anos e, logo depois, começou a cursar a faculdade de Pedagogia. Sua formatura é em março deste ano. Ela aguardou nove meses até conseguir realizar o procedimento. Ela continua dizendo que, por mais que a tristeza do momento seja muito grande, é necessário refletir, pois uma ação simples pode salvar a vida de pessoas. “Quem puder doar que faça o possível para que isso se concretize”, pede.
Do setor de ações educativas da Central Estadual de Transplantes, Gláucia Repula acredita que uma das coisas mais importantes é a conversa entre familiares. “Tem muita resistência das famílias ainda. Em janeiro, observamos queda nas doações. A sociedade tem que se conscientizar e discutir o tema. É muito importante todos conversarem com a família sobre o assunto”, enfatiza.