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Profissão de risco: trabalhadores da saúde são os que mais se acidentam

Quando se pensa em profissões perigosas, o que vem logo à mente são aquelas ligadas ao combate do crime, salvar vidas, resgates em acidentes, construção civil, investigações ou que lidam com produtos tóxicos. Mas, pelo menos nas estatísticas, nenhuma delas é a que provoca mais acidentes entre trabalhadores do Paraná. O maior número de acidentados é de profissionais do atendimento hospitalar. Médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e demais funcionários dessas instituições são vítimas constantes de acidentes decorrentes do exercício da profissão.
Dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, em 2005 e 2006 (levantamento mais recente), mostram que esse segmento registrou a maior quantidade de acidentes, sendo que, em 2006, houve o aumento de 20% das notificações se comparado ao ano anterior. Dos 36.995 acidentes com trabalhadores notificados, em 2006, 2.401 aconteceram a profissionais do atendimento hospitalar. Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos dos Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), existem 5 mil estabelecimentos de saúde no Paraná, dos quais 540 são hospitais e 70 deles, localizados em Curitiba – não inclui os públicos. Só a iniciativa privada emprega 50 mil profissionais de saúde no Estado.
Diretora de relações sindicais da Fehospar, a advogada Eliane Cornelsen acredita que o setor talvez não seja o campeão de acidentes de trabalho, mas aquele que comunica qualquer tipo de ocorrência e de maneira completa. ”De três anos para cá, a fiscalização da Vigilância Sanitária ficou mais intensa e o empregador mostra mais cuidado com a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho. E a gente sabe que em outros segmentos nem todos os acidentes são comunicados”, defende Cornelsen, pontuando que a nova legislação da segurança e saúde no trabalho em fase de implantação no Brasil é muito avançada, mas que a maioria dos hospitais não terá recursos para cumpri-la.
”O atendimento hospitalar se trata realmente de um ambiente perigoso, existem os riscos biológicos. Hoje, se há um acidente com perfurocortantes o empregado está consciente do perigo de contaminação. Se no passado ele escondia, agora não esconde mais pelo medo de adquirir uma doença”, situa. ”Ficou compreendido que para a própria segurança do empregado e do empregador é importante a comunicação do acidente para os órgãos competentes”, diz ela, informando que os profissionais que mais se acidentam dentro desse universo são os enfermeiros e a maior ocorrência de acidentes é com perfurocortantes.
A enfermeira Luiza Fanes, servidora federal do Hospital de Clínicas (HC), acrescenta que o trabalho ”braçal” exercido pelos profissionais de enfermagem, como suspender pacientes, acarreta problemas de coluna, bicos-de-papagaio, hérnias e distensões musculares. ”Muitos enfermeiros ficam, depois, puxando a perna devido a alterações na coluna”, revela Fanes, que também é diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sinditest). Dos cerca de 500 servidores afastados, atualmente, 400 são do HC.
Em 1989, Fanes sofreu um acidente com perfurocortante e se contaminou com Hepatite B. ”Eu era chefe do serviço de hemodiálise de um hospital de São Paulo. Estava retirando a agulha da veia do paciente, quando ele puxou o braço e ela entrou no meu dedo, mesmo usando luvas. Um mês depois, comecei a passar mal. Os exames mostraram que tinha adquirido a doença infectocontagiosa”, relata. ”Como o acidente não foi comunicado em até 48 horas, fui afastada e perdi 100% do meu vencimento. Voltei para Curitiba para me tratar, junto da família, caso contrário morreria de fome. Fiz exames periódicos e me curei da hepatite”, desabafa.
”Sorte grande” teve a auxiliar de enfermagem Maria da Penha Nogueira, de 45 anos, que também sofreu um acidente com perfurocortante, há 14 anos, no HC, mas não se contaminou com nenhuma das doenças das quais o paciente que atendia era portador. ”Estava atendendo um paciente com Hepatite C, tuberculose e HIV. Precisei ministrar uma medicação na veia dele e acabei me cortando, depois, ao desprezar a agulha utilizada. O esparadapo grudou na luva que eu usava e a agulha me espetou. Fiz uma sangria no dedo e o registro do acidente. Graças a Deus não desenvolvi nenhuma doença”, lembra.
”Ainda há carência de informações de como proceder diante de um acidente dessa natureza. A pessoa fica paralisada e falta assistência nessa hora, o trabalhador não sabe nem dos seus direitos. Os acidentes perduram porque continua a situação de risco. É preciso melhorar a orientação e a prevenção universal”, opina Nogueira. A reportagem da FOLHA entrou em contato com a assessoria de marketing do HC, mas não obteve retorno.

Por Flora Guedes, da Equipe da Folha

 

Norma exige prevenção de acidentes mais eficaz

Boa parte dos acidentes no atendimento hospitalar seguramente ocorre com instrumentos perfurocortantes, como agulhas, lâminas de bisturi, tesouras e pinças. Quem afirma é Sérgio Silveira de Barros, chefe do setor de Saúde e Segurança no Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Paraná.
”Mesmo usando duas luvas em cada mão não há como se proteger. Na nova norma regulamentadora criada pelo Ministério do Trabalho e Emprego fica proibido a tentativa de recapsular a agulha usada, tendo que ser jogada por inteiro dentro de um recipiente para descarte adequado”, informa.
Barros se refere à NR 32 ou Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Assistência a Saúde, que está em vigor, e enfatiza o treinamento dos profissionais do setor para prevenção de acidentes somada a um sistema de gestão de risco e garantia para os trabalhadores. ”A NR 32 propõe trabalhar com planejamento, antecipando o risco de acidentes, inovação de métodos e equipamentos de trabalho, dando a visão sistêmica para todos daquilo que é insalubre no ambiente hospitalar. Essas sanções de prevenção de acidentes é uma política de responsabilidade social, compete ao empregador desenvolvê-las para o bem-estar da comunidade”, explica Barros.
A NR 32 orienta que os fabricantes de perfurocortantes criem com urgência equipamentos seguros, que diminuam os riscos na manipulação. ”Ela insiste na orientação e em todo conjunto de vacinas preventivas de profilaxia, no caso do acidente, coquetel de remédios e acompanhar o trabalhador para ver se não desenvolve nenhuma patologia. Uma vez que tenha ocorrido a perfuração ou corte é possível a contaminação por agentes biológicos”, diz Barros, reforçando que a notificação de acidentes é intensa no atendimento hospitalar, o que pode colaborar para que lidere o ranking de acidentes do trabalho.
Barros lembra que os profissionais que trabalham na radiologia, nas caldeiras que geram vapor, com os cilindros de oxigênio, quimioterápicos, lavanderia, marcenearia e cozinha, por exemplo, também estão expostos ao outros riscos dentro dos hospitais. ”O tratamento direto com agentes biológicos e outras contaminações são inúmeras dentro dos hospitais. Um hospital é naturalmente de alto risco. Não é nosso interesse interditar esses estabelecimentos, o que a gente faz é orientar, notificar, autuar, multar e cobrar a legislação, buscando diminuir as taxas de contaminações”, diz ele.
Um acidente em série, ocorrido há quatro anos no Hospital de Clínicas, teve como uma das vítimas o marceneiro Rafael Krasota, de 39 anos. Após ajudar no resgate de trabalhadores terceirizados que faziam um serviço de impermeabilização de uma caixa d’água do hospital – e acabaram desmaiando dentro do local -, Krasota teve a saúde prejudicada por ter ficado exposto ao produto químico. ”Quem entrava para salvar os outros não voltava, então chamamos os bombeiros e ajudei a quebrar a caixa d’água e a puxar os homens com cordas”, lembra ele.
”A partir daí comecei a ter falta de ar, porque tenho problemas cardíacos e fiquei afastado. Fiz tratamento contínuo com remédios, até que um exame revelou que eu tinha bronquite equistazia cística, cerca de dois anos depois”, relata Krasota, que trabalha hoje no setor de faturamento do HC. ”Ficou diagnosticado como uma doença ocupacional. Estou impossibilitado de exercer minha profissão para evitar contato com produtos químicos. Fico triste porque escolhi ser marceneiro, mas preciso ter saúde para criar meus filhos”, pondera ele.

SERVIÇO

Acontece nos dias 13 e 14 de março o Simpósio de Direito Aplicado em Saúde, no Victoria Villa Hotel. O evento, promovido pelo Sistema Fehospar e Sidicato e Associação dos Hospiatais do Paraná, propõe debater temas cotidianos das relações que envolvem hospitais, instituições de saúde, seus empregados e clientes, além do decreto que regulamenta o Nexo Técnico Epidemiológico e as particularidades da nova sistemática de cálculo do Fator Acidentário Previdenciário (FAP). Alguns dos palestrantes são o desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná Miguel Kfouri Neto, o juiz do Trabalho Paulo Conti e o presidente do Conselho Jurídico da Confederação Nacional de Saúde, Alexandre Zanetti. Informações no site www.fehospar.com.br ou pelo fone (41) 3254-1772.