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Saúde: Parada estratégica

 

            Muitas pessoas se orgulham ao dizer que há anos não pisam em um hospital, que têm uma saúde de ferro e detestam ir ao médico. Andam firmes e confiantes na contramão de todas as recomendações repetidas pelos 11 especialistas, de diferentes áreas, consultados por esta reportagem. Os médicos são unânimes no argumento de que é fundamental uma parada estratégica para ouvir o organismo. E as descobertas podem ser surpreendentes, como no caso do eletricitário Welton de Souza Monteiro, 42 anos. Durante uma visita de rotina ao oftalmologista, ele descobriu que estava com glaucoma, uma doença silenciosa, quase sempre assintomática, que poderia tê-lo deixado cego.

 

            Toda ação preventiva é bem-vinda. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, em 2008, sejam registrados cerca de 470 mil casos de tumores no país. Além disso, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o ano de 2040, o Brasil terá um aumento de 250% no número de mortes por causas cardiovasculares. Os riscos não são desconhecidos. A chance de ter um enfarte, por exemplo, aumenta quatro vezes quando o colesterol ruim está elevado e duas vezes quando o paciente apresenta gordura abdominal aumentada. Provavelmente, daqui a 30 anos, o país será o líder mundial nesse tipo de mortalidade.

 

            A boa notícia é que esse quadro pode ser alterado. A tecnologia está ao lado dos pacientes, seja no aperfeiçoamento de exames tradicionais, seja nas possibilidades abertas pelas pesquisas genéticas, que prometem mapear as predisposições a possíveis doenças, aumentando as chances de cura. Nos últimos 10 anos, houve um grande salto nos processos de diagnóstico por imagem, que estão cada vez mais eficientes, rápidos e menos invasivos. O radiologista Marcelo Canuto, do Pasteur Medicina Diagnóstica (Dasa), conta que, com poucos toques no mouse de um computador, é possível reconstruir em três dimensões partes do corpo dos pacientes. Um procedimento que, no passado, demorava horas para ser executado.

 

            A Revista do Correio preparou um guia do check-up, com os cuidados que homens e mulheres devem tomar em diversas fases da vida. Mas, antes de correr para um laboratório, saiba que o primeiro passo é procurar um médico. Por meio da avaliação clínica, ele vai determinar quais exames complementares serão necessários. Veja as informações e cuide-se.

 

 Exceção à regra

 

            A advogada Ana Paula Tomazzetti, 38 anos, descobriu aos 11 anos que as taxas de colesterol estavam muito altas. A família se assustou com o diagnóstico da garota magrinha, que se exercitava com freqüência. Mas, naquele tempo, a medicina ainda não valorizava tanto o indicador, especialmente em crianças. De restrição, Ana Paula sofreu apenas com menos batatas fritas e ovos fritos por semana. Apenas aos 28 anos, as taxas alteradas chamaram a atenção da advogada. O médico recomendou uma dieta especial, aliada a exercícios físicos.

 

            Há cinco anos, não houve alternativa. Apenas os medicamentos conseguiram controlar os níveis de colesterol de Ana Paula. A despeito de ser magra e praticar exercícios, o colesterol ruim alto é uma ameaça herdada geneticamente. Depois de 2006, a preocupação se acentuou. O pai dela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), aos 67 anos de idade, e ficou com seqüelas. Assim como a filha, apesar de magro, ele controlava os índices de colesterol com remédios. Quando a taxa voltava ao normal, ele suspendia os medicamentos. Em um desses intervalos, foi acometido pelo AVC.

 

            Atualmente Ana Paula está sem os remédios porque amamenta o pequeno Pedro, de quatro meses. Durante o período da gravidez o medicamento foi suspenso e o controle da doença foi feito por meio da alimentação e dos exercícios físicos. A advogada cortou do cardápio as frituras, leite condensado, creme de leite e evita carne vermelha. "Quando o meu pai sofreu o AVC, eu fiquei assustada, fiz todos os exames para saber como estava a minha saúde. Não faço uma dieta radical, mas me cuido", conta.

 

 A importância da prevenção

 

            Foi por obrigação que o eletricitário Welton de Souza Monteiro, 42 anos, realizou um check-up. A empresa na qual ele trabalha determina que os empregados façam anualmente uma série de exames de saúde. Não fosse essa obrigatoriedade, Welton provavelmente não descobriria um glaucoma. Há 10 anos ele usa óculos por causa da miopia, mas, apesar disso, a consulta médica não fazia parte da rotina dele. Durante os exames, a oftalmologista descobriu que a pressão ocular de Welton estava elevada. Testes complementares detectaram o problema no olho esquerdo. Hoje o eletricitário faz um tratamento com colírios e não ficou com seqüelas. "Não fosse a exigência da empresa eu não me preocuparia, não havia sintomas. Eu tive a oportunidade e a sorte de descobrir o problema ainda cedo", conta.

 

            O caso de Welton é emblemático. Boa parte dos brasileiros não se preocupa com o check-up. E, em algumas especialidades, como a urologia, ainda existe muito preconceito. "Há muita desinformação, mas acho que essa resistência está mudando. Com a prevenção, podemos detectar doenças que podem ser controladas, como o câncer", diz José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.

 

            Atualmente, a mudança para pior nos hábitos alimentares, o crescente número de obesos e o sedentarismo quase crônico têm sido grande foco de preocupação entre os especialistas. O cardiologista Anderson Rodrigues de Oliveira cita estatísticas alarmantes da OMS: até 2030 deve aumentar em 150% o número de diabéticos na América do Sul. Em 2040, haverá um aumento de cerca de 250% do número de mortes por causas cardiovasculares no Brasil. "Quando falamos em check-up, estamos prevenindo a principal causa de morte no mundo hoje, a aterotrombose", diz o médico. A aterotrombose é uma doença que compromete a parede dos vasos, causando derrames (acidente vascular cerebral) e enfarto do miocárdio.

 

 Saúde na internet

 

            Foi lançado no Brasil um portal chamado HelpLink (www.helplink.com.br), no qual as pessoas podem manter o histórico médico na internet. O site serve como ponto de apoio para facilitar o acesso a dados sobre a própria saúde e dos familiares, com informações como doenças preexistentes, tabela de vacinações, eventuais alergias e cuidados especiais.

 

            A página pode ser acessada por médicos mediante autorização,

 

            e o usuário interage com o sistema por meio de mensagens de SMS ou e-mails. O serviço é gratuito.

 

 Alta tecnologia a serviço da saúde

 

            O avanço tecnológico possibilitou uma revolução nos exames de imagem, como os obtidos por meio dos equipamentos de ressonância magnética e de tomografia computadorizada. Por meio deles, podem ser identificadas alterações nos pulmões, rins, fígado e cérebro. Além disso, são indicados para o acompanhamento da evolução de tratamentos como radioterapia e quimioterapia. "Eles permitem avaliar com exatidão se o tumor está respondendo aos medicamentos, assim como possibilitam saber todas as características antes da intervenção cirúrgica ou do início do tratamento", explica o radiologista Marcelo Canuto, do Laboratório Pasteur Medicina Diagnóstica.

 

            O especialista lamenta que no Brasil o único sistema de prevenção usando exames de imagem seja a mamografia. Nos Estados Unidos já é possível detectar tumores no intestino grosso e de pulmão. Marcelo explica que a radiologia é líder em matéria de evolução da medicina. Por meio de programas de computador, os médicos conseguem processar imagens do corpo que, no passado, gastavam horas para serem manipuladas. Marcelo cita o exemplo da colonoscopia virtual por tomografia computadorizada, que mostra o intestino grosso por dentro. "O exame convencional, indicado em caso de suspeita de câncer no intestino, é mais dispendioso e desconfortável", compara. A perspectiva é de que os exames sejam mais rápidos, detalhados e menos invasivos.

 

 Check-up genético

 

            De que forma as pesquisas sobre o genoma humano vão afetar o futuro da medicina preventiva? Salmo Raskin, médico especialista em genética clínica e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, explica que atualmente os exames genéticos fazem previsões pontuais. Por exemplo: se há casos de câncer de mama na família, uma mulher pode fazer um teste para descobrir se ela tem a predisposição para desenvolver a doença. "Hoje os testes estão limitados à história familiar", diz. O médico estima que, daqui a 10 anos, o seqüenciamento genético esteja completo, e isso possibilitará que, com um único exame, se descubra quais os riscos de desenvolver doenças diversas. A partir daí, os pacientes poderão realizar tratamentos adequados e mudar hábitos.

 

            Os exames genéticos não seriam avaliados isoladamente, mas complementariam outros, como os de sangue e os radiológicos. Apesar das inúmeras vantagens dessa revolução genética, Raskin alerta para a possibilidade de que a população não compreenda a diferença entre o risco de desenvolver uma doença e a certeza de que isso ocorrerá. "Os testes poderiam gerar desespero, mas eles não garantem que a pessoa vá morrer exatamente por causa da doença detectada", ressalva. O especialista lembra que, numa perspectiva negativa, os exames genéticos poderiam ser usados pelos planos de saúde para aumentar as mensalidades ou pelas empresas como impeditivo na contratação.

 

 Exame avalia composição corporal

 

            Um equipamento usado para densimetria óssea agora é indicado para avaliar a gordura e a massa corporal. Renato André, mestre em Educação Física e Fisiologia do Exercício, explica que a medição do percentual de gordura no corpo é uma forma de avaliar o risco de doenças cardiovasculares e diabetes. "Além de ser importante nos programas de redução de gordura corporal do ponto de vista estético, o equipamento colabora com a manutenção da saúde". O exame conhecido como Absorciometria com raios X de Dupla Energia é considerado padrão-ouro, ou seja, o mais preciso na avaliação da composição corporal. "Com o exame, quantificamos também a gordura corporal total e por regiões específicas como, por exemplo, a gordura abdominal – que está ligada à síndrome metabólica. Além disso, verificamos o percentual exato de massa muscular", descreve o especialista.

 

            O exame é rápido, indolor e não-invasivo.