Duas pesquisas, uma da Fundação Oswaldo Cruz, outra do Datafolha, comprovam que a rede pública de saúde de duas das principais capitais brasileiras estão na UTI. A primeira, publicada com exclusividade pelo Jornal do Brasil, revela que as vítimas de violência e acidentes no município do Rio de Janeiro recebem atendimento precário em hospitais com instalações físicas inadequadas, infra-estrutura em estado lastimável, com falta de leitos e equipamentos deficientes. A segunda, realizada entre médicos de São Paulo, mostra que dos 343 hospitais paulistanos, o mais bem avaliado é o Albert Einstein, privado. Apenas um público, o das Clínicas, recebeu menções de excelência por 7% dos profissionais de saúde paulistas.
O raio X das áreas de resgate, atendimento de emergência, internações e reabilitação montado por 10 pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz comprova o diagnóstico de falência múltipla do sistema público de saúde. No Rio, mais de 15 mil vítimas de violência e acidentes são internadas por ano nas unidades da capital, a maioria jovens entre 20 e 29 anos de idade. As duas causas só perdem, em mortalidade, para as doenças do aparelho respiratório e o câncer.
As carências despontam no momento do socorro. O tempo médio entre a chamada para uma ocorrência e a entrada da vítima na rede pública é tão longo que coloca o Rio na lanterninha das capitais pesquisadas – Manaus, Recife, Curitiba e Brasília. As cinco reúnem as mais altas taxas de mortalidade e ferimentos provocados por violência ou acidentes no país. Com agravantes no Rio – como o serviço desarticulado entre as emergências e a falta de uma central para controlar os leitos disponíveis.
Há apenas três pronto-socorros 24 horas na capital fluminense, dois deles inaugurados apenas este ano.
Faltam, contudo, cirurgião ortopedista, ginecologista, radiologista, odontólogo, psicólogo e assistente social. Apenas 16 instituições públicas de saúde atendem acidentados e violentados na cidade. As unidades, apesar da qualificação técnica de primeira linha, são desorganizadas, desarticuladas e insuficientes para a demanda. Apenas 19% das UTIs se situam nos parâmetros exigidos e metade dos hospitais não exibe número de profissionais suficientes para o atendimento das vítimas.
Tais dados fazem a diferença na avaliação dos médicos sobre os melhores hospitais paulistanos. Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Hospital das Clínicas e São Luiz lideram a relação por exibirem equipes médicas e equipamentos altamente qualificados e modernos. Ao contrário da penúria de recursos que afeta a rede pública, as instituições de saúde privadas da capital paulista passam por um período de expansão e fazem investimentos milionários em hotelaria, troca de tecnologia e na construção de novos prédios.
Quadros tão díspares alertam para a urgência de mais recursos para a rede pública de saúde municipal, estadual e federal. Não bastam boas intenções ou promessas. É preciso agir e mudar. Aplicar, com o mesmo rigor, no aumento da arrecadação de impostos e no investimento em equipamentos, na conservação de prédios, na contratação de profissionais, em melhores salários, em medicamentos, na construção, em mais leitos e na busca cotidiana da qualidade. Para que cada vez mais brasileiros sejam capazes de sobreviver à violência do dia- a-dia, a acidentes e às doenças crônicas ou casuísticas.