Uma campanha iniciada pela SBO (Sociedade Brasileira de Otologia) pretende popularizar e demonstrar a importância do teste da orelhinha, uma avaliação do sistema auditivo dos recém-nascidos.
Hoje, no Brasil, as falhas auditivas atingem de 3 a 5 bebês em cada 1.000 nascimentos, mas cerca de 75% delas podem ser detectadas ainda no berçário, e quase 100% dos casos podem ser solucionados quando diagnosticados antes de a criança completar um ano.
Conhecida como teste da orelhinha, a triagem auditiva neonatal não demonstra o grau de perda auditiva, mas pode dizer se a função do ouvido está normal ou deficiente.
A avaliação, que demora entre cinco e dez minutos, é feita com um aparelho que emite ondas acústicas. Essas ondas ativam certas áreas do ouvido que, se estiverem normais, produzirão emissões otoacústicas -sons detectados pela atividade de células da cóclea (parte anterior da orelha interna) e que são avaliados para apresentar o quadro auditivo do bebê.
O teste não dói, não tem contra-indicação e não causa incômodo por não usar métodos invasivos, como agulhas.
Um dos problemas possíveis de serem detectados é a surdez profunda, que não pode ser solucionada com aparelho auditivo padrão. Mas um dispositivo chamado implante coclear, inserido por cirurgia em bebês a partir de um ano, possibilita a melhora de vida da criança.
"O aparelho permite que o paciente desenvolva plenamente a fala e dura 75 anos, garantindo toda uma vida de inclusão na sociedade", diz o otorrinolaringologista Paulo Porto, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O médico lembra ainda que, se não passarem pela triagem, crianças com qualquer grau de surdez tendem a ficar sem tratamento por tempo demais. "Mesmo sem escutar, o bebê balbuciará normalmente, levando os pais a crer que ele ouve bem. O diagnóstico precoce possibilita resolver a deficiência no primeiro ano de vida."
A Campanha Nacional da Audição pretende colocar a triagem no mesmo patamar do teste do pezinho, capaz de identificar diversas deficiências em recém-nascidos.
Alguns municípios contam com leis que obrigam as maternidades a fazer o teste da orelhinha. "Mas a informação é melhor do que a obrigatoriedade", diz o presidente da SBO, Luiz Carlos Alves de Sousa. "A população entende que é melhor custear um exame de R$ 40 do que ter as privações de um deficiente auditivo."
Além disso, a SBO quer desmistificar o uso de aparelhos auditivos nas crianças com idade pré-escolar. A preocupação tem fundamento: nas salas de aula, de 10% a 15% das crianças apresentam 30% de diminuição da acuidade auditiva. Cerca de 2% dos casos exigiriam o uso de aparelhos, mas não chegam a ser detectados.
Pele de bebê
Acne neonatal afeta cerca de um terço dos recém-nascidos e está entre as principais doenças de pele em bebês; médicos alertam para os riscos de algumas receitas caseiras
[…] Causada pelo suor dos dias quentes e úmidos, a brotoeja (ou miliaria) ataca a maioria das crianças até dois anos no rosto, no pescoço, na barriga, no peito e nas articulações
Ter uma pele de bebê deixa de ser um desejo muito interessante quando se conhece a quantidade de problemas que as crianças passam até os dois anos de idade. Desde o nascimento, elas podem apresentar uma variedade de doenças, entre elas, a acne neonatal, desconhecida por muitas mães, mas que afeta cerca de um terço dos recém-nascidos.
A doença não requer tratamento com medicação na maioria dos casos. O que costuma assustar é a aparência da criança, que fica coberta por minúsculas espinhas já entre a terceira e a quarta semana de vida. Tudo acontece por uma predisposição genética do bebê, acarretada pela liberação de hormônios maternos durante os períodos de gestação, pós-parto e amamentação.
"Esses hormônios tendem a permanecer no organismo da criança por 180 dias, provocando o surgimento das espinhas e dos pequenos cravos", diz o dermatologista Mario Grinblat, do hospital Albert Einstein. "Não se deve tentar retirar as erupções nem aplicar óleos e pomadas. Nada disso é eficiente e pode até mesmo agravar o quadro clínico. O mais indicado é deixar a criança com poucas roupas, arejada, confortável."
Descamação
A preocupação com a pele das crianças começa mesmo bem cedo. Já nos primeiros dias de vida, também é comum ver o bebê descamar em todas as regiões do corpo, desde os pés até o rosto.
Em poucas semanas, o processo fisiológico se equilibra e, mais acostumado ao leite materno, ele deixa de soltar as tais "casquinhas". É o início da adequação da criança ao ambiente.
A icterícia é outra reação normal que surge na pele de mais de 50% das crianças. É causada pelo excesso do pigmento bilirrubina no sangue e pela impossibilidade de o fígado metabolizá-la.
Quando surge o tom amarelado, cerca de dois dias após o nascimento, é realizado um exame para identificar o grau em que se apresenta e optar por algumas horas de banho de luz ultravioleta antes mesmo de o bebê deixar o hospital.
Não há medicação específica além dessa fototerapia, mas alguns conselhos são dados pelos médicos, como expor o recém-nascido ao sol da manhã por alguns minutos. Já o uso de receitas caseiras preparadas com ervas, como aplicar chá de picão na pele do bebê, é uma crendice perigosa. "Aparecem freqüentemente casos de alergias pelo uso de preparados assim, que não funcionam e ainda podem agravar o estado da criança", alerta o dermatologista pediátrico Wellington Furlani, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Caspa
Outra inimiga da pele é a dermatite seborréica, surgida nos primeiros meses de vida. Uma leve caspa aparece na cabeça da criança e pode até mesmo se espalhar para o restante do corpo. Já a dermatite atópica se manifesta da mesma forma, mas demora mais a ser tratada. Foi o que aconteceu com Matheus, de 15 meses. "Tudo começou com uma descamação leve, mas logo ele se coçava tanto que chegou a formar feridas e a espalhar a vermelhidão por várias partes do corpo", conta sua mãe, Adriana Fanhoni, 34. "Além da medicação, o pediatra recomendou uma receita bem simples: acrescentar duas colheres de amido de milho na água do banho, que ajudou a controlar a irritação e aliviar o desconforto."
Brotoeja
A fragilidade da pele infantil começa cedo e leva um tempo para passar. Causada pelo suor dos dias quentes e úmidos, a brotoeja (ou miliaria), por exemplo, ataca a maioria das crianças até dois anos. Pode surgir no rosto, no pescoço, na barriga, no peito e nas articulações, onde as dobrinhas da pele acumulam mais calor.
Os pediatras recomendam cremes e loções específicas para cada bebê, mas dar mais de um banho ao dia (sem sabonete), vestir roupas frescas e soltas e eliminar alimentos doces e gordurosos da alimentação ajudam a combater a irritação.
Mas talvez o mal mais corriqueiro a atacar a pele infantil sejam as assaduras. A inflamação, geralmente marcada nas nádegas das crianças, é causada pela presença da amônia nas fezes e na urina.
Alguns bebês também demoram a se livrar do problema por causa da alergia às fraldas descartáveis, ao sabão em pó ou ao amaciante de roupas.
O surgimento de manchas avermelhadas ou escuras deve indicar a necessidade de trocar as fraldas em intervalos menores, de duas em duas horas, limpando e secando bem a pele. Pomadas que contenham óxido de zinco ajudam na recuperação da região irritada. Já o uso de calças plásticas ou roupas muito apertadas, que retenham calor, aumenta ainda mais o incômodo da assadura.