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573 mil mortos à bala e no trânsito

Estudo realizado pelo Núcleo de Estudos da Violência de São Paulo (USP) em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que o homicídio ocupa o primeiro lugar entre as causas de morte precoce no Brasil. Divulgado ontem em Genebra, na Suíça, o trabalho demonstra a importância desse crime, classificado como um importante problema social e de saúde pública. O estudo abrange um período de dez anos e indica que 12,4% de todas as mortes ocorridas nos anos 90 foram provocadas por causas externas, como são chamados os homicídios, acidentes de trânsito e suicídios.

O trabalho, coordenado pela pesquisadora Maria Fernanda Tourinho, demonstra que o número de mortes causadas por armas de fogo está próximo do de acidentes de carro. O levantamento feito indica que na década de 90 houve 265 mil mortos por armas de fogo contra 308 mil vítimas de motoristas imprudentes.

O estudo reserva espaço significativo ao Rio de Janeiro. Os números justificam a fama de violento que o estado ganhou nos últimos anos. Mais de 42% das mortes por causa externa estão relacionadas com armas de fogo, o percentual corresponde a 69 mil óbitos, cerca de 20 mil a menos que as registradas em São Paulo no mesmo período. Contudo, no Rio, o número de mortos por armas de fogo é menor do que o de atropelados. Situação que se repete em Pernambuco. Na região Norte, apenas em Tocantins o número de vítimas de atropelamentos é menor do que o de mortos por armas de fogo.

Na linha de tiro

A pesquisa reforça ainda a tese de que a cada dia as vítimas de armas de fogo são mais jovens. De 1991 a 2000 a quantidade de homicídios entre a população de 15 a 24 anos aumentou 48%, enquanto o crescimento verificado entre a população mais velha foi de 29%. De acordo com o estudo, a situação é mais grave nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco, onde a taxa de homicídios entre jovens é superior a 100 mortes para cada 100 mil habitantes.

Pelos cálculos dos especialistas 93% das vítimas de armas de fogo no país são do sexo masculino. O trabalho da USP acrescenta outro dado preocupante: no Brasil, um rapaz de até 24 anos tem 14 vez mais chaves de morrer do que uma mulher da mesma faixa etária.

Os dados sugerem uma relação entre os indicadores de desenvolvimento socioeconômico e o número de mortes. Análise da criminalidade em São Paulo mostra que a maior parte dos homicídios ocorrem nas regiões mais pobres da capital, e que, nesses bairros, as vítimas são mais jovens. O estudo sustenta existir um frágil vínculo entre a população e as autoridades ou instituições públicas: ”O baixo investimento em políticas públicas não só dificulta o acesso como também contribui para a baixa efetividade dos mesmos. Assim sendo, instituições públicas – inclusive a polícia e o sistemas judiciários – possuem baixa legitimidade”.

O estudo chama a atenção para o grande número de homicídios causados por brigas e discussões. Levantamento realizado nas unidades da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, em Brasília e Salvador, indica que 34% das mortes são causadas por assaltos e 31% por brigas. Apenas 38% dos casos de lesões causados por armas de fogo foram provocados por conhecidos, companheiros ou familiares.

Para os pesquisadores as informações sobre criminalidade costumam ser manipuladas pelas secretarias de Segurança dos estados para deliberadamente distorcer a realidade. Não há certeza, por exemplo, sobre o número de armas que circulam no país. Pelas estimativas da organização não-governamental Viva Rio apenas no estado do Rio de Janeiro haveria 700 mil armas, enquanto em São Paulo a cifra ultrapassaria 3,6 milhões.

CAMPANHA PRORROGADA

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, informou ontem que vai pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a prorrogação, por seis meses, da Campanha do Desarmamento. A previsão é de que ela termine em 23 de dezembro. O ministro esteve ontem em São Paulo para formalizar, com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a adesão do estado à campanha.