Dos mais graves casos de depressão a explosões descontroladas de raiva, os distúrbios mentais são muito mais comuns em todo o mundo do que se imaginava, revela um novo estudo da Organização Mundial de Saúde. O que é pior: a maioria dos casos mais severos não recebe tratamento adequado.
O maior estudo já realizado sobre o tema foi publicado na “Journal of the American Medical Association” e mostra que os percentuais variam consideravelmente. Em Xangai,na China, por exemplo, 4,3% da população apresentaram sintomas de desordens mentais no ano passado. Nos EUA, o percentual foi de 26%.
– Mesmo que ninguém esteja escondendo seu histórico de doença mental, e muitos certamente estão, o problema é enorme – afirma Ronald Kessler, da Escola de Medicina de Harvard, que coordenou o estudo da OMS.
O levantamento revela que de 35% a 50% dos casos graves não recebem o tratamento adequado nos países desenvolvidos. Esses percentuais chegam a 85% em países mais pobres.
– Os resultados deixam claro que há um déficit significativo de tratamento de desordens graves – afirmou Kessler.
A situação varia consideravelmente de país para país. Mais de 60% das pessoas com problemas mentais sérios recebem tratamento na Espanha e na França, bem como cerca de 50% delas nos Estados Unidos, Holanda e Alemanha.
Mas menos de 20% dos pacientes nestas condições são tratados em Colômbia, México, Ucrânia e Líbano. Os resultados variam significativamente também dentro de um mesmo país de acordo com as classes sociais, sobretudo no que diz respeito ao tratamento de condições menos graves.
O estudo foi feito por 100 especialistas, ajudados por 3 mil entrevistadores treinados para identificar sintomas de doenças mentais. Foram ouvidas mais de 60 mil pessoas em 14 países.
Nos EUA, 18% sofrem de ansiedade
A pesquisa revelou ainda um dado curioso. Determinadas desordens como bulimia, transtorno obsessivo compulsivo ou estresse pós-traumático são mais freqüentemente relatadas em determinados países do que em outros.
– Sempre achamos percentuais mais altos dessas desordens nos Estados Unidos – contou Kessler. – O que não sabemos é se isso é realmente verdadeiro ou se as pessoas lá estão mais propensas a revelar os problemas.
Desordens relacionadas à ansiedade, por exemplo, foram admitidas por 18% dos entrevistados nos Estados Unidos e apenas 5% e 4% dos ouvidos no Japão e na China, respectivamente.
Na análise de Kessler, os percentuais relatados nesses dois países são implausíveis, sobretudo se for levado em conta que o maior consumo do mundo de drogas anti-ansiedade é registrado no Japão e que a China tem os mais altos índices de suicídio.