Superlotação, falta de verbas, de médicos e de equipamentos e pacientes chegando a correr risco de vida – não poderia ser mais dramática a situação dos hospitais públicos no Estado do Rio. No Iaserj, quatro meses atrás, o quadro era tão precário que médicos e funcionários fizeram uma passeata até o Ministério Público estadual para exigir providências; mas, terça-feira última, quando o presidente do Sindicato dos Médicos e o vice-presidente da Comissão de Saúde da Alerj foram ali fazer uma inspeção, receberam a informação de que a situação tinha piorado – a tal ponto que o setor de emergência não podia atender novos pacientes.
O que é mais lamentável nesse quadro – e o Iaserj é apenas um exemplo – é que ele não surpreende. Porque o governo estadual, contrariando a Constituição, deixou de investir R$ 761 milhões no setor desde 2001; e continua disposto a desviar 25% dos recursos destinados à saúde, no orçamento de 2004, para programas sociais – ou melhor, assistencialistas.
A justificativa apresentada é puro sofisma: investir na área social – por exemplo, melhorando a alimentação da população carente – evita doenças, portanto equivale a investir em saúde. Por essa lógica, construir viadutos também é investir em saúde, já que, ao facilitar o fluxo do trânsito, eles reduzem a poluição.
O governo federal chegou a ser infectado pelo mesmo vírus, tendo cogitado desviar R$ 3,5 bilhões da saúde; felizmente, restabeleceu-se a tempo da doença. Mas no Estado do Rio, ao que parece, somente uma decisão da Justiça, a partir de uma iniciativa do Ministério Público, poderá ter esse mesmo efeito curativo.