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A hora do círculo virtuoso na saúde

 

Planos de saúde devem prover serviços de valor agregado para os associados. Já sabemos que o atual formato da indústria de saúde está com os dias contados. Recente estudo global divulgado pelo IBM Institute for Business Value indica o risco dos sistemas públicos e privados se tornarem insustentáveis até 2015, caso não reformulem o modo como são financiados, prestados e avaliados, e, ao mesmo tempo, priorizem a redução de custos e a melhoria de qualidade.

 

            Se a essa informação juntarmos o envelhecimento da população mundial, temos um vislumbre dos desafios que estão reservados para as empresas da área nos próximos anos. Em 2000, havia no mundo 600 milhões de idosos; as projeções demográficas mostram que, em 2050, esse número saltará para 2 bilhões.

 

            No Brasil, a crise de reposicionamento vivida pela saúde se arrasta há mais de meia década. Embora criticada, a atuação da Agência Nacional de Saúde (Anvisa) permitiu que o saneamento fosse realizado no tempo certo. Desprovidas de estrutura de capital para se manterem ativas, muitas das empresas de saúde quebraram e vêm quebrando nesse percurso.

 

            Empresas atuantes na área de saúde não podem ser vistas como business nas mãos de proprietários que buscam exclusivamente resultados de curto prazo. Esse é um setor que tem a responsabilidade de gerir poupança pública destinada ao benefício saúde. Por isso, torna-se impositivo que as organizações tenham estrutura de capital, de preferência pulverizado, com apoio de fundos em sua composição societária. Aliado a boas práticas de governança corporativa e implantação de processos, este é um ponto de atração para investidores e que garante, conseqüentemente, a manutenção de executivos motivados, a prestação de serviços de qualidade e a garantia de novos investimentos em tecnologia e na expansão do negócio, em um verdadeiro círculo virtuoso.

 

            O recente movimento realizado pelas empresas de saúde, de abrir capital na Bovespa e se habilitar a receber aporte de fundos de private equity, é um indicador desta tendência de depuração do setor e de uma inevitável consolidação. Para ampliarmos o conceito, cito também a consolidação que deverá chegar à área de odontologia, tendo como líder a Odontoprev , a partir do seu recente e bem-sucedido IPO.

 

            Ao lado da busca de formas de capitalização, o mercado também procura opções para um sistema operacional mais eficiente. O segmento de autogestão tem-se apresentado como uma das alternativas viáveis para a assistência à saúde e deve ser um modelo em crescimento e consolidação no médio prazo. De modo geral, esse sistema consegue oferecer cobertura mais ampla e custos mais condizentes com a realidade brasileira. Uma opção que vislumbro é a busca de sinergia entre os sistemas de autogestão e, até mesmo, a constituição de uma gestão compartilhada, com a qual ganharão em capacidade de negociação com fornecedores, prestadores de serviço e, principalmente, em evolução tecnológica para um melhor gerenciamento dos dados de saúde e análises de utilização.

 

            Volto a falar do estudo da IBM, com o qual compartilho a opinião sobre as tendências do setor. Entre outros pontos, o relatório indica que cada "player" tem um papel a desempenhar para buscar a sustentabilidade da indústria de saúde. Prestadores de serviços precisam ampliar o foco de assistência, reforçando os cuidados preventivos. Fornecedores precisam trabalhar em colaboração com as organizações de saúde, médicos e pacientes para entregar produtos melhores e de menores custos. Os prestadores de serviço têm papel obrigatório na gestão dos dados de freqüência de utilização, compartilhados com as fontes pagadoras de modo a racionalizar a utilização.

 

            Planos de saúde devem prover serviços de valor agregado, tanto para seus associados quanto para as organizações que prestam assistência. E a sociedade, maior beneficiária, precisa assumir o papel de tomar decisões realistas em relação ao estilo de vida e necessidades de assistência médica de seus membros. Chegou a hora de promover um forte estímulo à responsabilidade individual no tocante à saúde.

 

            O equilíbrio do setor de saúde no Brasil exige de seus players uma mudança de atitude, na qual não cabem comportamentos convencionais de concorrência. A busca da sustentabilidade da indústria da saúde implica cooperação e racionalização de recursos. A consolidação do setor é irreversível e trará benefícios para a cadeia de saúde como um todo.