Oscar Niemeyer fez certo dia um comentário que voltou à mente nos últimos dias. O comentário, pronunciado em palestras para estudantes, era de que “a arquitetura não é importante, o importante é a vida”. A frase, vinda do maior arquiteto do mundo, tem o objetivo de mostrar que há valores que estão acima de tudo o mais. São princípios como fraternidade, solidariedade, igualdade, liberdade, felicidade e respeito ao ser humano.
A reflexão de Niemeyer devia inspirar os políticos em todo o mundo, não apenas no Brasil. A política não é importante, o importante é a vida.
O conceito se torna particularmente oportuno quando se analisa o contexto que envolve áreas como as de saúde e segurança pública no Rio de Janeiro.
Saúde e segurança situam-se no limiar estreito entre a vida e a morte, e ambas reforçam o contorno das fronteiras a que está submetida a vida humana.
No caso da saúde, esta fronteira é a da luta contra a doença num leito de hospital. No que diz respeito à segurança, o da luta contra a violência que roubou mais de 6 mil vidas no Rio em 2004, de acordo com o Instituto de Segurança Pública do estado.
Talvez por lidarem com o limite tão tênue entre vida e morte, saúde e segurança são os temas que mais inspiram a atenção da população. Foi o que a Firjan acabou de flagrar em sondagem realizada com 1.157 trabalhadores no Rio de Janeiro. Saúde e segurança lideram o ranking dos temas que estes trabalhadores gostariam de ver encarados como prioridade.
As citações alcançaram respectivamente 76% e 73% do total de entrevistados.
Não por acaso, saúde e segurança são também as áreas mais sensíveis e que mais exigem de um administrador público. Porque um erro na gestão da saúde ou da segurança é um atentado, mesmo que involuntário, contra a vida humana. Por isso é tão importante evitar que equívocos aconteçam. E manifestar apoio público em caso de acertos. E ao falar em acerto, é preciso apoiar a ação que o governo federal acaba de realizar na área de saúde do município do Rio de Janeiro.
Foi uma decisão feliz, correta, oportuna. O que se tem defendido na área de segurança é esta mesma participação do governo federal, neste caso em ação conjunta com o governo estadual e com a participação dos poderes Legislativo e Judiciário.
Num artigo veiculado dias atrás no GLOBO, Arnaldo Jabor propõe a criação do PRJ, Partido do Rio de Janeiro. Ele seria integrado por todos os cidadãos de bem, que realmente amam este estado. A lógica do PRJ é a da soma, é a do esforço de todos. A participação do governo federal se encaixa neste contexto, e por isso se torna muitas vezes indispensável, emergencial, prioritária.
O intuito da Firjan ao defender este tipo de participação não é político, nem partidário. Não é dirigido contra ninguém. A demanda é apenas em favor dos cidadãos, brasileiros e fluminenses.
O que se tem feito é atuar como porta-voz da sociedade fluminense e, em larga medida, da sociedade brasileira, amedrontada diante da escalada da violência e aflita com a deterioração dos serviços de saúde.
É com base neste tipo de reflexão que a Firjan dá início hoje a um ciclo de cinco seminários que vão abordar o combate à violência no Brasil. A idéia é reproduzir a iniciativa, muito breve, em discussões sobre saúde pública. Uma coisa é certa: a Firjan está consciente de que não pode cruzar os braços ao ver que a violência alcançou proporções tão alarmantes, ou que o sistema de saúde pública não oferece dignidade ao cidadão fluminense.
Num caso e noutro, está claro que é necessário um esforço conjunto e uma mobilização liderada por Brasília. Também num caso e noutro, são vitais a participação e o grito de alerta de cidadãos de bem e entidades representativas deste estado. É a vida humana que está em jogo. E a vida é e será, sempre, mais importante do que a política.
EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)