A violência no trânsito matou mais de 30 mil pessoas no Brasil em 2001. Em geral, homens e jovens com idade entre 15 e 44 anos. A tragédia se repete em outros países. No mundo, 1,2 milhão de homens, mulheres e crianças morrem em acidentes em ruas e estradas. Os dados estão em relatório elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Hoje, Dia Mundial da Saúde, o governo federal lança a campanha O trânsito é feito de pessoas – Valorize a Vida. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos seis chefes de Estado que prefaciam o estudo da OMS. No texto, Lula destaca que o Brasil adaptou recentemente um novo código de trânsito que contribuirá para reduzir em aproximadamente 5 mil o número anual de mortes nas estradas do país. ”Trata-se de uma medida positiva que nos estimulará a seguir adiante”, ressalta.
Diante da escalada da violência no trânsito, a OMS acendeu a luz vermelha e determinou que 2004 seja o ano dedicado ao tema. No documento, a organização sugere uma série de ações cujo objetivo é reduzir o número de vítimas e de riscos. Para especialistas, o ideal é esclarecer a população e fortalecer as instituições envolvidas no assunto.
Críticas em casa
Para David Duarte Lima, especialista em segurança de trânsito e professor da Universidade de Brasília (UnB), o atual governo e os anteriores erram ao adotar medidas temporárias cujo foco é a propaganda. ”O governo funciona com espasmos”, diz. ”Na realidade, os órgãos estão parados. O que funciona de fato na busca pela redução dos acidentes são programas a médio e longo prazo, não apenas campanhas na mídia.”
Independentemente das críticas, os ministros da Saúde, Humberto Costa, e das Cidades, Olívio Dutra, farão hoje um megaevento para chamar a atenção sobre o assunto. Logo cedo, eles participam de caminhada na Esplanada dos Ministérios. Na Praça dos Três Poderes, haverá uma cerimônia em memória das vítimas do trânsito. O símbolo da campanha será uma pessoa com os braços abertos.
”Há muita conversa e pouca ação”, critica o professor David Lima. ”O código de trânsito está pronto, mas as pessoas não.” Segundo ele, o despreparo do governo federal se estende a estados e municípios. ”Simplesmente, não há programa de trânsito no país.”
De acordo com o especialista, o trânsito brasileiro é tão violento que o risco de um jovem morrer no país vítima de um acidente automobilístico é sete vezes maior do que na Suécia. Na Inglaterra, esse risco é de quatro vezes, enquanto no Canadá cai para três. ”Mesmo assim, o problema é muito sério. Esses são só alguns números que mostram a gravidade do problema.”
Principais vítimas
Estudos da OMS mostram que pedestres, ciclistas e motoqueiros são as principais vítimas do trânsito. Nos países ricos, os motoristas de carros de passeio também encabeçam a lista. Em 2002, a taxa de mortalidade no trânsito era de 27,6 homens e 10,4 mulheres para cada grupo de 100 mil habitantes.
O uso do telefone celular pelo motorista ao volante também desponta como vilão. Segundo pesquisas, caso o condutor esteja usando o aparelho celular, o tempo de reação sofre atraso de pelo menos um segundo. Na prática, se ele tiver de frear o carro de surpresa, o que faria normalmente em 0,5 segundo, levará 1,5 segundo. E, no trânsito, esse vacilo pode ser fatal.
Simplesmente, não há programa de trânsito no Brasil
David Duarte Lima, especialista em segurança de trânsito e professor da Universidade de Brasília
MORTE NO ASFALTO
1,2 milhão de adultos, jovens e crianças morreram no mundo em 2000
60% das vítimas mundiais de acidente, em 2002, tinham entre 15 e 44 anos
30.527 pessoas morreram em acidentes no país em 2001
108,8 mil acidentes foram registrados nas rodovias federais em 2002
20,8% das vítimas brasileiras em estradas federais, em 2002, tinham entre 15 e 34 anos
Fontes: OMS e Polícia Rodoviária Federal
Mais segurança para carros e bicicletas
A segurança do trânsito depende também de mudanças nas estruturas de carros de passeio, ônibus, caminhões e bicicletas, destaca o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Especialistas afirmam que a gravidade dos acidentes diminui quando a dianteira dos veículos e bicicletas têm uma espécie de proteção contra choques.
Especialistas também saem em defesa do uso de cinto de segurança e de airbag. De acordo com o relatório, o uso de cinto reduz em até 60% o risco de morte, enquanto o airbag pode diminuir em até 14%, diante de qualquer tipo de batida. Se o choque for frontal e os passageiros utilizarem airbag, a proteção aumenta para 29%. Segundo dados da OMS, com a utilização de cinto e de airbag os passageiros ficarão 68% mais protegidos.
A Organização Mundial de Saúde propõe que os caminhões tenham proteções laterais e posteriores para evitar que carros e bicicletas deslizem para baixo deles. Se adotada, a medida poderá reduzir em 12% o número de mortos nesse tipo de acidente. Há, ainda, sugestão para revisar o modelo das bicicletas. Conforme a OMS, 60% dos acidentes envolvendo esse transporte são provocados por confusão cometida pelo ciclista ao colocar os pés nos pedais e na roda. (RG)