Saraiva Felipe afirma ser impossível impedir a entrada do vírus letal H5N1 no país e governo federal restringe importação de aves
O ministro da Saúde, Saraiva Felipe, afirmou ontem que será praticamente impossível impedir que o vírus H5N1, causador da gripe aviária, atinja o Brasil. "Impedir que ele chegue é uma bobagem. O vírus já chegou na Alemanha, na Itália, na Eslováquia e na França", declarou o ministro, após a cerimônia de comemoração dos 105 anos do Instituto Butantan, em São Paulo – a entidade iniciará neste ano a produção em grande escala de uma vacina. Apesar da afirmação de Felipe, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende adiar ao máximo a chegada do H5N1. O órgão estabeleceu ontem a suspensão das importações de aves provenientes de nações com focos da doença.
A resolução da agência, publicada no Diário Oficial da União, determina a proibição da importação e do comércio de carcaças inteiras, cortes, miúdos, produtos cárneos industrializados, ovos e penas de aves dos países contaminados. Além disso, a Anvisa estabelece que as importações estarão automaticamente suspensas sempre que o site da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) comunicar oficialmente a ocorrência da doença num país. Só se livram da proibição os derivados de aves submetidos a algum tipo de tratamento que elimine o vírus transmissor.
Os cuidados da Anvisa podem ser em vão se o vírus afetar o país por meio de aves migratórias, como destacou o ministro da Saúde. "Se a doença continuar se expandindo, fatalmente vai chegar primeiro como um problema veterinário atingindo aves", disse ele. "Um fato que ajuda o Brasil é que não importamos aves exóticas e somos o maior exportador de frango do mundo em volume financeiro", continuou Felipe. "Mas isso não pode ser apontado como um fator da não chegada do vírus no país."
Nos últimos meses, a epidemia tem se alastrado rapidamente. O vírus H5N1 já foi encontrado em mais de 25 países da Europa, Ásia e África. Ontem, a França anunciou supostos novos casos da doença numa fazenda de perus no centro-leste do país. A granja possui 11 mil aves e a presença do vírus no local ainda é investigada. A França é o maior exportador de aves da Europa e, até agora, apenas dois patos selvagens morreram de gripe aviária no país.
Na Alemanha, a suspeita de contaminação de um pato levou ao extermínio preventivo de 106 aves. Depois de análises, chegou-se à conclusão de que o animal não estava doente. Na Ásia, as autoridades indianas descartaram a ocorrência da gripe aviária em 11 de 12 pessoas colocadas sob quarentena após a aparição do vírus H5N1 em galinhas. A doença ainda não é transmitida de pessoa para pessoa, mas teme-se que uma mutação permita que o vírus se multiplique sem precisar das aves.