No Brasil, são 20 mil novos casos a cada ano. O problema chega a ser uma das principais causas de cardiopatia em crianças e é uma prova irrefutável de que reumatismo não é apenas uma doença de velhos, como pensa a maioria. Estamos falando da febre reumática, doença que pode atacar o coração, causando danos irreversíveis e até a morte.
A frebre reumática ocorre, segundo a reumatologista Maria Odete Hilário, quando a infecção de garganta, provocada pela bactéria estreptococo b hemolítica, não é tratada adequadamente. “Quando isso acontece, a criança começa a sentir depois de um certo tempo dores nas juntas, pernas, pulso e joelho, acompanhada de inchaço, podendo, no futuro, inflamar as válvulas do coração”.
As inflamações nas juntas e o inchaço caracterizam exatamente uma doença reumática. Nas crianças, esta espécie de reumatismo, é uma complicação tardia da infecção de garganta, que surge a partir dos três anos de idade, mas é mais comum em meninos e meninas com idade escolar, de 7 a 14 anos, que já têm uma predispostos para a doença, com uma prevalência um pouco maior nas mulheres. “Essa é uma das enfermidades de mais difícil diagnóstico na pediatria”, garante a dra. Odete Hilário.
incidênciaDas crianças que tem aquele tipo de infecção na garganta, cerca de 2,5 a 4% tem a predisposição para ser acometida pela febre reumática. A incidência é maior entre as crianças mais pobres, que costumam estar mais expostas à bactéria que causa aquele tipo de processo infeccioso. Por isso, a dra. Hilário situa a doença como um “problema grave de saúde pública”. Em muitos países desenvolvidos este tipo de problema já foi debelado.
As complicações costumam surgir de 1 a 3 semanas após a infecção. A partir daí, as juntas começam a ficar inflamadas e doídas. A dor chega a ser tão intensa que, inclusive, impede a criança de andar. Mais grave ainda é a possibilidade de a febre reumática atingir o coração da paciente.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a febre reumática é uma das que acarreta maior gasto na área de cardiologia do setor público. Isto se deve à sofisticação e à complexidade da cirurgia cardíaca feita nas crianças, o que propicia seu alto custo.
Somente esta circunstância, num País como o Brasil que tem verbas menores do que necessita a saúde pública, era mais do que suificiente para se investisse num programa de prevenção. “A orientação e o esclarecimento sobre a febre reumática poderia contribuir para a redução de gastos futuros com a doença”, reforça a reumatologista.
Penicilina pode evitar o pior
A reumatologista Maria Odete Hilário explica que a prevenção da febre reumática está principalmente no cuidado que o especialista deve ter no momento da infecção na garganta. “A doença precisa ser tratada de forma adequada pelo pediatra”.
Segundo ela, o tratamento é bastante simples e barato. “Basta uma aplicação de penicilina, que não custa mais de R$ 2, para evitar que se custe milhares de reais no futuro e para impedir que tenhamos um adulto incapacitado”, garante a especialista.
Combatendo a raiz do problema, a criança não corre o risco de, mais tarde, ser acometida pelas inflamações das juntas. Que os pais fiquem atentos: este reumatismo, quando ocorre, é migratório. A dor e os sinais de inflamação “pulam” de uma articulação para a outra.
É naquele período que o coração costuma se mostrar fragilizado, ainda que as manifestações não sejam tão evidentes. Mas, isto pode ser pecebido quando a criança começa a sentir falta de ar e algum cansaço.
coréiaQuando a febre reumática atinge o sistema nervoso central, que também é uma possibilidade, ocorre o surgimento daquilo que é chamado de coréia, que são movimentos descoordenados, involuntários e sem finalidade que atacam braços ou pernas unilateral ou bilateralmente.
Para os pacientes que já desenvolveram a febre reumática, o tratamento é específico para a região envolvida: uso de repouso e antiinflamatórios nas artrites, medicamentos específicos para o coração, corticóides e repouso absoluto na cardite (inflamação do coração), drogas específicas para o Sistema Nervoso Central e corticóides para a coréia.
Após a crise, coloca-se o paciente em um esquema de prevenção da infecção pelo estreptococo, usando-se a penicilina benzatina a cada 21 dias. Se ocorreu o envolvimento cardíaco, deve-se usar a profilaxia para o resto da vida ou, na impossibilidade disso, até os 30 a 35 anos de idade. Nos pacientes não portadores de lesão cardíaca, fica determinado seu uso até os 18 anos de idade.