O novo presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP), Henrique Salvador Silva, não descarta a possibilidade de cooperação entre o setor e o sistema público de saúde. No entanto, espera alguma forma de contrapartida do governo.
Em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo, Silva critica o projeto em discussão
Como o senhor avalia o projeto de outorga onerosa?
Existem duas situações distintas, uma para os hospitais com fins lucrativos e outra para os filantrópicos. Os filantrópicos já fazem esse serviço com as parcerias com o sistema público. Para os hospitais puramente privados, com fins lucrativos e que pagam os impostos que qualquer empresa paga – muitas vezes com dificuldade de caixa -, vejo isso com dificuldade. Uma coisa é aderir de forma espontânea, outra é ter de aderir de forma compulsória. Qual a contrapartida?
Então é um projeto inviável para os hospitais privados?
Para os hospitais com fins lucrativos, o sistema hoje é muito apertado, com margens pequenas de lucro.
O que seria um exemplo de contrapartida?
A isenção fiscal é uma delas.
Que avaliação o senhor faz da renovação do cadastro dos hospitais filantrópicos?
Existem entidades filantrópicas que estão absolutamente dentro dos parâmetros da lei. Não vejo problema, até porque existem benefícios na outra ponta com programas que beneficiam a população.
Qual será o impacto da crise econômica para o setor?
Quem financia o setor hoje? As empresas como um todo, pois a maioria dos planos são coletivos. Se houver desemprego, diminuição do crescimento ou recessão, a tendência é que haja uma diminuição de vidas no sistema e com isso uma competição acirrada entre os hospitais pelas vidas que restarem no sistema. A outra questão são os insumos importados que podem causar impacto.
Quais as perspectivas de investimento, mesmo ante a crise?
Os hospitais estão buscando alternativas. É uma tentativa de crescer em rede e racionalizar o que é possível, compatibilizando áreas como compras e criando redes de atendimento horizontais.
Mas não existe uma tendência de verticalização da gestão?
Isso é um dispositivo usado pelas empresas de medicina de grupo que têm hospitais próprios e com isso controlam seus custos. Existem duas formas de lidar com isso: o modelo vertical, com leitos e laboratórios próprios, e o outro é o modelo voltado para o controle de custos, muitas vezes até em detrimento da qualidade assistencial.
Isso vem acontecendo nos hospitais que se verticalizaram?
Se a proposta é simplesmente reduzir custos e não organizar o atendimento, pode haver um prejuízo na qualidade assistencial, e é contra isso que nós lutamos. Existem estudos que mostram que esse modelo não reduziu custos e por isso algumas operadoras optaram por não seguir o modelo de verticalização.
GLOSSÁRIO
Outorga onerosa: Projeto de lei em elaboração pela gestão de Gilberto Kassab (DEM) prevê que a cada novo leito privado aberto
Hospitais filantrópicos: Privados e sem fins lucrativos, comprometem-se a prestar serviços assistenciais em troca do certificado de filantropia.