A Prefeitura de São Paulo acabou com a obrigatoriedade dos exames médicos para que se possa nadar nas piscinas públicas do município. A decisão atinge as 61 piscinas dos clubes municipais e as 93 piscinas dos CEUs (centros educacionais unificados).
Os exames médicos são feitos para verificar se a pessoa que vai usar a piscina não tem nenhuma doença -de pele, principalmente- que possa ser transmitida a outras pessoas pela água. Caso tenha, ela deve se tratar e, depois de curada, submeter-se a um novo exame. O procedimento é praxe em clubes públicos e particulares.
Na portaria publicada no “Diário Oficial” do município de 31 de agosto, a Secretaria Municipal de Saúde justifica a decisão afirmando que não existe risco de transmissão de doenças infecciosas de pele se a água estiver tratada com hipoclorito de sódio (conhecido popularmente como cloro).
Segundo a médica Ana Cecília Sucupira, uma das coordenadoras da Secretaria de Saúde, a realização de exame médico a cada seis meses, como prevê um decreto estadual de 1979, “é uma farsa”.
“Seis meses não são garantia de nada. Você faz o exame hoje e amanhã já pode ter uma micose”, diz ela. “Os instrutores das piscinas dão uma olhada nas pessoas que vão entrar na água. Qualquer leigo pode fazer isso.”
Ainda segundo a coordenadora, o fim dos exames nas piscinas ganha mais importância porque faltam médicos nos hospitais da periferia. “Ter médico nas piscinas é uma inutilidade que faz vista. Médico precisa atender aos doentes.”
Especialistas concordam que o cloro é um “potente anti-séptico” para as piscinas, mas fazem ressalvas. “Os exames médicos precisam ser feitos porque o efeito do cloro é relativo”, alerta o médico bacteriologista Luiz Trabulsi, do Laboratório de Microbiologia do Instituto Butantan.
O gerente médico do clube Paineiras, Marcelo Ferreira, dá um exemplo: “As doenças podem ser transmitidas pela água que fica empoçada nas bordas da piscina ou nos vestiários”.
Para o professor de microbiologia Jorge Timenetsky, da USP, a ausência do exame médico precisa ser compensada com um cuidado ainda maior com a concentração do cloro: “Quanto mais suja e exposta ao sol é a piscina, mais o cloro se perde e mais os microorganismos se proliferam”.
A professora de microbiologia da Unesp Deise Falcão cita uma pesquisa que ela fez em meados nos anos 90 mostrando que a maior parte das piscinas dos clubes de Araraquara continha bactérias, fungos e vírus. Eram tratadas com menos cloro que o necessário. Entre as doenças de pele mais comuns estão a foliculite, a frieira e a pitiríase versicolor (pano branco ou micose de praia).
FRASES
“Os instrutores das piscinas dão uma olhada nas pessoas que vão entrar na água para ver se não têm nenhuma ferida ou mancha na pele. Qualquer leigo pode fazer isso”
ANA CECÍLIA SUCUPIRA
médica coordenadora da Secretaria Municipal da Saúde
“Os exames médicos precisam ser feitos porque o efeito do cloro é relativo”
LUIZ TRABULSI
médico bacteriologista do Laboratório de Microbiologia do Instituto Butantan
“Quanto mais suja e exposta ao sol é a piscina, mais o cloro se perde e mais os microorganismos se proliferam”
JORGE TIMENETSKY
professor de microbiologia da Universidade de São Paulo